Reflexão
Depoimento de uma mulher que superou a violência doméstica e o preconceito religioso
Meu nome G. V. 48 anos, casada pela segunda vez com
um homem maravilhoso, e mãe de três filhos do primeiro casamento e avó de um
menino que é minha riqueza.
Minha história não é diferente do que acontece ainda hoje em pleno século XXI.
Separei-me aos 23 anos do pai de meus filhos por não suportar a violência,
moral, física, psicológica. Já era evangélica na época isso em 1990, todos
foram contra mim, pois “A mulher sábia edifica a casa e a tola destrói com as
próprias mãos” Pv. 14:1
Não posso negar que tive apoio dentro da igreja de quem pensava
diferente, mas a maioria preconceituosa e de até irmãs de igreja me difamavam.
Não sabem o mal que me causaram. Enfrentei tudo e todos para ter meus filhos e
cria-los contrariando todas as expectativas de que não seriam alguém, já que
iriam ser criados sem pai.
Pois o que eu ouvia eram as malditas palavras: ”Ruim com ele, pior sem
ele”. Preferi ficar só com meus filhos e enfrentar todas as adversidades, nós quatro
e Deus.
Tachavam a minha família de incompleta e que deveria ser restaurada, que
tinha que lutar pelo pai das crianças. Jovem, cansada e pensando nos meus
filhos resolvi dar uma segunda chance, a pior loucura que fiz, não sei se foram
piores os seis anos de casada ou os seis meses que resolvi dar a chance.
Minha filha na época com quase 9 anos um dia magoada e irritada me
perguntou: “ Por que você voltou para o meu pai, não estávamos bem sem ele?” (sic). Decidi a segunda separação, por fim abandonei
a igreja, mas não abandonei a fé Naquele que tudo pode e me dava forças para
viver. Tive vários quadros de depressão não tratados e que refletem em meu
corpo hoje.
Perdoei a todos e não tenho mágoa de ninguém, escrevo esse depoimento,
pois vejo que ainda hoje dentro das igrejas falam-se da família tradicional, só
que eu fui uma família completa, eu e meus três filhos. Quando casei novamente
eles já estavam adolescentes.
Eu sou um exemplo de que existem outras configurações de família e são felizes, e que
necessariamente a família tradicional não funciona na maioria das vezes. Fui
exemplo nas igrejas em que congreguei por ter meus filhos sempre ao meu lado e
serem exemplos no meio dos jovens.
Meus filhos são responsáveis, dedicados, o
caçula está terminando a Faculdade, outro é professor, minha filha tem seu próprio
negócio, trabalham e me respeitam, acima de tudo, me amam, e já ganhei genro e
noras e um neto lindo.
Contrariamos a expectativas que como família “destruída” não criaria
bons filhos.
Sou grata a Deus por que sem Ele eu teria cometido loucuras na hora do
desespero, mas tive força e eu vi que poderia sair daquela condição que estava,
e que para Ele o mais importante são as vidas, as pessoas.
Se você mulher estiver em uma situação parecida, não se desespere você
não é OBRIGADA a sofrer como me disseram com a desculpa que pelos filhos tudo
deve se suportar.
EU NÃO FUI TOLA, tolos foram os que me acusaram sem saber o que eu
vivia. Sou uma mulher virtuosa e meu esposo depois de treze anos em que estava
sozinha me encontrou, em seis meses nos casamos e no último dia 28 de novembro
completamos doze anos de casados e felizes.
Somos uma família recomposta, reconstituída, ele veio também de uma separação e tem
duas filhas e um neto amado. Escrevo esse desabafo para dizer que se as igrejas
querem a família tradicional devem saber que nessas famílias mulheres sofrem
violência doméstica, seus filhos vivem com um protótipo de pai na igreja e
outro dentro de casa, isso é uma realidade.
Comentei uma vez sobre uma esposa irmã da igreja que apanhava do marido
com o pastor e obreiros e obreiras da igreja, lastimavelmente a resposta que
tive é que se ela fosse esposa de um deles provavelmente eles bateriam nela
também, pois ela era “desobediente demais”.
Fiquem tranquilos sai dessa igreja há anos. Na época não tinha maturidade nem conhecimento o suficiente para ajuda-la. Deixo o meu apelo para que
líderes religiosos tomem um posicionamento e repense a Bíblia contextualizando
para os nossos dias, isso não é pecado, é AMOR.
EU EDIFIQUEI A MINHA CASA!
Por Lúcia Goulart
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